Ela sentou para escrever. Não tinha ainda uma história pronta. Sentou porque não agüentava mais andar de um lado para outro. Quis escrever para tentar pôr para fora tudo o que sente. Mas ela simplesmente não consegue. Ela não sabe. É um não-querer. Uma decepção com o mundo. Um tanto faz que mata. Uma indiferença que corrói. Uma tristeza sem começo, meio ou fim. Uma tristeza completa. Ela é tristeza. Suas lágrimas são as palavras. Por isso ela escreve. Mas nem todas as palavras a renovariam. Será que elas perderam seu poder? Talvez ela perdera as esperanças. Tão nova, tanto tudo dentro dela. Tudo misturado, incompleto. O tudo dentro dela deixa um vazio. Um vazio imenso. Ela tem medo de ser sugada pelo buraco negro que existe no seu interior. É tão ela, sempre. Queria voltar. Ela já se importou, já sorriu, já chorou. Hoje apenas passa. Ela não sabe o que fazer. Será melhor ir embora? Será que ela já se fora e apenas ninguém notou? Sua cabeça dói, tudo sempre dói. Sua pele dói, seu coração dói. Ela quer falar, mas não consegue explicar. Só entenderia quem a visse por dentro. Mas ninguém tem tempo. Estão muito atrasados para o trabalho.
(Camila Monteiro)